segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Dedo de Deus – 102 anos da conquista do inconquistável

O Pico do Dedo de Deus (1.675 metros de altitude), situado na região da Serra dos Órgãos, próximo a Teresópolis, por anos foi considerado inconquistável. Isso se dava, uma vez que vários montanhistas estrangeiros/ veteranos não conseguiram conquistá-lo.

Diversas tentativas foram realizadas, por montanhistas de todos os níveis e extremamente experientes, e todas fracassaram. Com isso restava claro, o cume foi decretado inatingível! O fascínio pelo pico ficou no ar...



Para surpresa de todos, o inesperável aconteceu, no ano de 1912 um pernambucano (radicado em Teresópolis) e quatro teresopolitanos, todos sem experiência em escalada, conseguiram a façanha de conquistar o pico. A equipe de aventureiros foi formada pelo ferreiro José Teixeira Guimarães (pernambucano), o caçador Raul Carneiro e os irmãos Acácio, Alexandre e Américo Oliveira. Não menos importante, eles contaram também com a preciosa colaboração do menino João Rodrigues de Lima, que percorria diariamente a longa subida até a base da escalada, levando comida para o grupo.

José Teixeira Guimarães - centro


Com o objetivo em mente, os aventureiros realizaram algumas incursões para reconhecimento do local, mas a caminhada que resultaria na conquista do pico teve início, exatamente, na manhã de 6 de abril de 1912, sendo gasto um dia inteiro na caminhada de aproximação e montagem do acampamento-base.

No dia 7 de abril, caiu uma chuva que não permitiu qualquer avanço, o grupo ficou estagnado. Na manhã do dia 8 foram retomados os trabalhos e assim enfrentaram o primeiro grande obstáculo: um paredão vertical de aproximadamente 12 metros, com uma calha e fissura do lado direito. Ali foram colocados, inicialmente 2 grampos de arganel. Com auxílio de um tronco amarrado aos grampos é vencido um lance e alcançado um pequeno platô, em seguida, mais 2 grampos e o mesmo recurso do tronco, os auxiliam para vencer o paredão.
A seguir, com 3 metros e igualmente vertical, é vencida a segunda parede através de uma pirâmide humana, permitindo aos aventureiros atingir a base de uma chaminé (fenda na rocha) horizontal muito estreita, com 8 metros de extensão, a qual eles venceram, com alguma dificuldade, utilizando 4 grampos. No ponto seguinte, é preciso enfrentar um lance externo e bastante exposto, o qual exigiu a colocação de outros 3 grampos (também com a utilização dos troncos), superando mais um obstáculo.

Além da continua garoa, cai à tarde e começa a escurecer. Não sendo mais possível prosseguir, os aventureiros retornam à base do primeiro paredão onde, numa reentrância de pedra, se acomodam para passar a noite.

Na manhã do dia 9 de abril fazem o ataque ao cume, dessa vez de forma definitiva, um a um, os aventureiros vencem todos os lances ultrapassados no dia anterior. Assim, chegam, finalmente, a uma chaminé bastante estreita, mas de pouca dificuldade ("Arranca-botão"). Mais uma chaminé vem a seguir, esta em forma de V, sendo cravados 3 grampos no primeiro trecho e mais 2 no segundo, permitindo alcançar um platô bastante amplo. Neste ponto já é possível ver o próximo obstáculo, um paredão negativo de aproximadamente 4 metros. Colocando um grampo na base e outro a 1,5 metros, fixam a eles um tronco e, com auxílio de pirâmide humana, fazem subir Alexandre, o mais leve, o qual fixa o último grampo, possibilitando, assim, a subida de todos os aventureiros. Por fim, aproximadamente às 17 horas do dia 9 de abril de 1912, o Dedo de Deus foi conquistado!

Ao todo foram fixados 19 grampos de arganel (todos feitos pelo ferreiro e conquistador José Teixeira), alguns dos quais ainda estão lá. Após toda a emoção da conquista, os aventureiros acenderam uma fogueira para sinalizar o feito para Teresópolis. Feito isso, os então conquistadores, tiveram que improvisar uma cobertura com ramagens para pernoitar no cume.

Na manhã do dia 10 de abril, após hastearem uma bandeira nacional, os escaladores iniciaram a descida. Ao chegarem a Teresópolis foram recebidos como heróis e seu feito notificado com grande destaque pela imprensa. Feito notável para a época, principalmente se considerarmos que não tinham qualquer noção de técnica de escalada nem o equipamento de segurança de que hoje dispomos.

Existem relatos que alguns dos conquistadores teriam voltado ao Dedo de Deus dois anos após a conquista, mas não existe nenhum registro desses eventos, uma vez que naquela época não existiam associações de montanhismo.

Uma história que foi o propulsor do montanhismo e escalada no Brasil, a conquista do Dedo de Deus representou um marco glorioso na história do montanhismo brasileiro. Será lembrada eternamente!

O caminho idealizado por Teixeira, e que mais tarde recebeu o seu próprio nome, constitui, ainda hoje, uma importante via de acesso ao cume do imponente penhasco.


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