Diversas tentativas foram realizadas, por
montanhistas de todos os níveis e extremamente experientes, e todas
fracassaram. Com isso restava claro, o cume foi decretado inatingível! O fascínio
pelo pico ficou no ar...
Para surpresa de todos, o inesperável aconteceu, no ano de 1912 um pernambucano
(radicado em Teresópolis) e quatro teresopolitanos, todos sem experiência em
escalada, conseguiram a façanha de conquistar o pico. A equipe de aventureiros foi
formada pelo ferreiro José Teixeira Guimarães (pernambucano), o caçador Raul
Carneiro e os irmãos Acácio, Alexandre e Américo Oliveira. Não menos
importante, eles contaram também com a preciosa colaboração do menino João
Rodrigues de Lima, que percorria diariamente a longa subida até a base da
escalada, levando comida para o grupo.
José Teixeira Guimarães - centro |
Com o objetivo em mente, os aventureiros
realizaram algumas incursões para reconhecimento do local, mas a caminhada que
resultaria na conquista do pico teve início, exatamente, na manhã de 6 de abril
de 1912, sendo gasto um dia inteiro na caminhada de aproximação e montagem do
acampamento-base.
No dia 7 de abril, caiu uma chuva que não
permitiu qualquer avanço, o grupo ficou estagnado. Na manhã do dia 8 foram
retomados os trabalhos e assim enfrentaram o primeiro grande obstáculo: um
paredão vertical de aproximadamente 12 metros, com uma calha e fissura do lado
direito. Ali foram colocados, inicialmente 2 grampos de arganel. Com auxílio de
um tronco amarrado aos grampos é vencido um lance e alcançado um pequeno platô,
em seguida, mais 2 grampos e o mesmo recurso do tronco, os auxiliam para vencer
o paredão.
A seguir, com 3 metros e igualmente vertical,
é vencida a segunda parede através de uma pirâmide humana, permitindo aos
aventureiros atingir a base de uma chaminé (fenda na rocha) horizontal muito
estreita, com 8 metros de extensão, a qual eles venceram, com alguma
dificuldade, utilizando 4 grampos. No ponto seguinte, é preciso enfrentar um
lance externo e bastante exposto, o qual exigiu a colocação de outros 3 grampos
(também com a utilização dos troncos), superando mais um obstáculo.
Além da continua garoa, cai à tarde e começa
a escurecer. Não sendo mais possível prosseguir, os aventureiros retornam à
base do primeiro paredão onde, numa reentrância de pedra, se acomodam para
passar a noite.
Na manhã do dia 9 de abril fazem o ataque ao
cume, dessa vez de forma definitiva, um a um, os aventureiros vencem todos os
lances ultrapassados no dia anterior. Assim, chegam, finalmente, a uma chaminé
bastante estreita, mas de pouca dificuldade ("Arranca-botão"). Mais
uma chaminé vem a seguir, esta em forma de V, sendo cravados 3 grampos no
primeiro trecho e mais 2 no segundo, permitindo alcançar um platô bastante
amplo. Neste ponto já é possível ver o próximo obstáculo, um paredão negativo
de aproximadamente 4 metros. Colocando um grampo na base e outro a 1,5 metros,
fixam a eles um tronco e, com auxílio de pirâmide humana, fazem subir
Alexandre, o mais leve, o qual fixa o último grampo, possibilitando, assim, a
subida de todos os aventureiros. Por fim, aproximadamente às 17 horas do dia 9
de abril de 1912, o Dedo de Deus foi conquistado!
Ao todo foram fixados 19 grampos de arganel (todos
feitos pelo ferreiro e conquistador José Teixeira), alguns dos quais ainda estão
lá. Após toda a emoção da conquista, os aventureiros acenderam uma fogueira para
sinalizar o feito para Teresópolis. Feito isso, os então conquistadores, tiveram
que improvisar uma cobertura com ramagens para pernoitar no cume.
Na manhã do dia 10 de abril, após hastearem
uma bandeira nacional, os escaladores iniciaram a descida. Ao chegarem a
Teresópolis foram recebidos como heróis e seu feito notificado com grande
destaque pela imprensa. Feito notável para a época, principalmente se
considerarmos que não tinham qualquer noção de técnica de escalada nem o
equipamento de segurança de que hoje dispomos.
Existem relatos que alguns dos conquistadores
teriam voltado ao Dedo de Deus dois anos após a conquista, mas não existe
nenhum registro desses eventos, uma vez que naquela época não existiam
associações de montanhismo.
Uma história que foi o propulsor do
montanhismo e escalada no Brasil, a conquista do Dedo de Deus
representou um marco glorioso na história do montanhismo brasileiro. Será
lembrada eternamente!
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